domingo, 24 de abril de 2011

O HOMEM DA MASCARA DE FERRO TAMBÉM SOU EU de Lisélia de Abreu Marques

Existem muitos mundos dentro de nós. Mundos habitados por aspectos desconhecidos de nós mesmos, separados por freqüência vibratória. A parte que conheço de mim mesma, a parte na qual me reconheço e aceito, a parte que chamo de “eu” está apartada das partes que rejeito, que me envergonho, que temo em mim mesma e as quais tranco num quartinho escuro para que eu não tome consciência delas. Desde muito cedo voltamos a atenção para as partes valorizadas de nós mesmos, aquelas que aceitamos e reconhecemos e trancafiamos até o esquecimento, na masmorra do inconsciente, como o “homem da máscara de ferro”, as partes irmãs que rejeitamos. Mas estas partes rejeitadas continuam vivas e não ficam quietinhas trancafiadas na gaveta, continuam a viver, a atuar e a nos influenciar mesmo com a nossa recusa em tomar conhecimento delas. Por estarem no inconsciente, ou seja, fora da nossa percepção, sentimos as conseqüências de sua atuação, mas não reconhecemos as causas em nós. Não enxergamos como criamos aquela realidade. A impressão é de que fomos vitimados pelo destino, pela sociedade, pelo mundo, pelos outros. A desconexão com nossas facetas rejeitadas e trancafiadas favorece a atuação delas meio que a nossa “revelia”.

A influência em nossas vidas daquilo que escondemos de todos, inclusive de nós mesmos, no inconsciente é real. Muitas vezes agimos inconscientemente criando circunstâncias diárias e não nos damos conta disto. Parece que a vida acontece independente de nós. Parece que a vida tem vontade própria e destino desconhecido.

Sentimentos, pensamentos, desejos que consideramos indignos, impuros, vergonhosos são rejeitados e trancafiados, mas, nem por isto deixam de existir. Continuam a existir e a partir das sombras do inconsciente afetam de maneira importante a realização de nossos sonhos, desejos e ações de boa intenção e valor. Obstruem, interferem no nosso crescimento, na nossa felicidade, na nossa realização pessoal, profissional, emocional, ou em qualquer outra área relacionada a estes aspectos. As “verdades” que acreditamos (incluindo aqui preconceitos e imagens de massa) se manifestam na nossa vida diária. As verdades que acreditamos, não, necessariamente são a Verdade, mas porque acreditamos nelas as materializamos. Acreditar que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus” pode afastar alguém da riqueza e da prosperidade. Acreditar que “todos os homens traem” pode atrair homens infiéis. O universo é como “o gênio da lâmpada” dizendo “sim amo, seu desejo é uma ordem.” Só que este gênio não distingue os bons e saudáveis pensamentos dos maus e doentios. Diz sim para todos e materializa nossos sonhos e nossos pesadelos. Materializa a somatória dos desejos conscientes e inconscientes. E, muitas vezes, um "não" a um desejo saudável tem mais força que um "sim" para este mesmo desejo, como por exemplo, parar de fumar, fazer exercícios, estudar, etc. Uma parte quer estudar, outra parte não quer estudar. Uma parte que se exercitar, outra para não quer se exercitar. Dentro de nós, existem interesses contrários em conflito.

Conhecer e desfazer os pesadelos é fundamental para ter os sonhos realizados e os pesadelos não. Não há como manifestar o que não existe. A vida exterior é como uma tela em branco em que pintamos o que existe dentro de nós. Não haveria tantas guerras no mundo se não houvesse tantas guerras no coração dos homens. Só podemos dar o que temos. Reprimir o que não queremos só coloca longe dos olhos aquilo que deveríamos cuidar, limpar e transformar. Trazer à consciência, à luz do dia, aquilo que considerarmos o nosso pior, o nosso lado mais feio é a melhor atitude a se tomar. Trazer a agressividade à consciência é diferente de sair espancando as pessoas que cruzarem o nosso caminho. Trazer à consciência é tomar conhecimento, é se apropriar de uma parte sua, é olhar para ela, é questioná-la, amá-la, melhorá-la, reconduzi-la ao bem.

É preciso se dar ao trabalho de acolher todas as partes de nós mesmos que rejeitamos, banimos, rechaçamos. Essa atitude de rejeição é muito cruel, é autodestrutiva, é conflituosa, é maligna, é orgulhosa (pois parte de um sentir-se superior). Enfim, usamos um lado ruim para banir um lado ainda pior de nós mesmos. Está na hora de usarmos nosso lado amoroso, para amarmos a nos mesmos. A autoestima vem do amor próprio. Amar a si mesmo é o primeiro passo para a saúde em todos os seus aspectos.

Amar a parte boazinha é fácil. O grande desafio é “amar ao vosso inimigo”, principalmente quando o nosso inimigo somos nós mesmos. Se não conseguirmos acolher nossas partes menos queridas, como poderemos acolher estas partes nos outros?

O Tarô traz no arcano 11, a carta da Força na qual se estampa a gravura de uma moça gentil abrindo a boca de um leão feroz. É através desta força firme e delicada do amor, da força que atua não contra o leão, não contra o mal, não contra qualquer coisa que achamos errada, mas sim que atua em prol da união, da integração, da paz, do perdão, da unidade que conseguiremos curar os aspectos distorcidos da nossa alma. Esta carta do Tarô, o arcano 11 se faz representar na força utilizada por um adestrador de cães famoso chamado César Milan em seu programa de TV, se faz presente na força de uma educadora infantil num outro programa chamado “Supernanny”. É este tipo de força que une, que integra, diferente da força onde um vence e o outro perde. Na força que o arcano 11 representa todos saem vencedores.

Enquanto estivermos usando a força que combate, a força contra algo ou alguém, a força que separa, que derrota, que mata, estaremos alimentando o que desejamos que cesse, ou seja, a separação, a dor, a desconexão. O lado que perde também faz parte do ser que se reconhece apenas no lado que ganha. Como pode o corpo ficar bem se a mão direita vencer e decepar a mão esquerda? Não existe vitória sobre si mesmo que não seja no amor. E amar é mais do que aceitar o que está ok. Tem uma frase que eu gosto muito e que acho que expressa bem o que quero dizer, ela diz assim: “ Me ame quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso.”

Aceitar os meus defeitos não significa aprovar os meus defeitos, significa parar de me rejeitar, para de me identificar só com a minha parte bonitinha. Aceitar os meus defeitos significa me aceitar por inteiro, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza quer seja física, emocional, espiritual, etc. É o casamento interior, a união. Aceitar não significa ser conivente, aprovar um defeito, e sim encarar os fatos, a realidade das minhas imperfeições. Aceitar a realidade é o primeiro passo para mudar a realidade. Negar a realidade é fazer como o avestruz que enfia a cabeça num buraco e acha que com isto está resolvendo a questão. Rejeitar a realidade, excluí-la não é saudável. Os loucos fazem isto. Incluir o que temos de mais feio nos faz inteiros, cessa a guerra que há dentro de nós. Sentarmos juntos, lado a lado, o nosso lado mais esclarecido e o nosso lado mais ignorante. Sentarmos juntos ao redor da fogueira para conversar, para olhar olhos nos olhos é o caminho para a paz interior, para a integração, para a cura. Lembrando que a cura de cada um é, também, a cura de todos.

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