domingo, 27 de junho de 2010

ENTENDENDO A DUALIDADE de Lisélia de Abreu Marques

              DUALIDADE
             Dimensão do Ego

                          VENCEDOR       PERDEDOR                 
    MELHOR       PIOR
              ESTAR CERTO       ESTAR  ERRADO
              VIVER       MORRER
        A MEU FAVOR       CONTRA MIM
           VANTAJOSO       PREJUDICIAL
       SE DAR BEM       SE FERRAR
                 SER AMADO       NAO SER AMADO
        GANHAR       PERDER
                     ESTAR COM A RAZÃO       NÃO ESTAR COM A RAZÃO   


Ta doendo?
Você está sentindo-se magoado, chateado, traído, desqualificado, decepcionado, chocado porque alguém disse ou fez algo que aborreceu você?
Se sim, você está na dualidade. A dualidade causa dor.

Estando você na dualidade, necessariamente está ocorrendo um conflito, mesmo que você não tenha consciência clara deste conflito, mesmo que só você saiba dele e a outra pessoa nem imagine o que está se passando entre você e ela. O conflito é a marca da dualidade, é a logomarca do engano. Onde há conflito, há dualidade.

Numa dualidade, há dois lados. Há o lado vencedor e o lado perdedor. Óbvio que você irá escolher o lado vencedor, o lado que está com a razão, o lado mais vantajoso. Assim que você se posiciona no lado da dualidade onde se encontra o vencedor, sobra à outra pessoa, o lado do perdedor. Aquele que vai se ferrar, se dar mal, ir para o inferno.

Para me assegurar de que estou com a razão e portando do mesmo lado da dualidade em que consta, o vencedor, a segurança, e o mais importante, a vid, preciso ter uma lei, uma verdade, um parâmetro que me guie nesta escolha de posição. E eu tenho. Tenho as minhas crenças pessoais, as minhas verdades, os meus parâmetros para testar e conferir a realidade dos fatos.
 
CRENÇAS PESSOAIS:
As minhas crenças serão as medidas que usarei para avaliar a realidade e me assegurar de escolher a lateralidade “segura” da dualidade.

Vamos pegar um exemplo:

“- Estou decepcionado porque fulano falou rispidamente comigo.”

Destrinchando fica assim: Escolho ficar decepcionado porque assim me colocarei na condição de vítima e colocarei o outro na condição de agressor. Afinal de contas, falar rispidamente comigo é atitude de alguém deselegante, de alguém mal-educado, de alguém insensível, de alguém mau. Logo, quem se comporta assim é o bandido, o vilão e, na dualidade, deverá ficar na mesma polaridade do perdedor, da morte, de quem vai pro inferno e a vítima, ficará a salvo se colocando na outra polaridade.

Para quem acredita que ser vítima é mais vantajoso, é melhor do que ser o agressor, as situações de abuso dão a falsa sensação de segurança, de estar do lado seguro da dualidade. Então, apesar de estar se colocando em situações de risco, de ser abusado, apesar de todo o sofrimento, a postura de vítima parecerá, ainda assim, mais segura do que a postura de agressor.

A posição de vítima serve, também, para compensar sentimentos de culpa, enquanto o sofrimento “faria justiça” aos sentimentos de menos valia, baixa auto-estima e “não merecimento de felicidade”. A posição de vítima facilita a liberação de comportamentos e emoções reprimidos e não permitidos por ela mesma, tais como a vingança e a agressão. Facilita, ainda, a manipulação; Além da sensação de poder ao oferecer o perdão e com ele a salvação ao agressor com relação a este pecado em especial.

Para quem acredita que ser o agressor é melhor, mais vantajoso, as posições de vítima e agressor se invertem na dualidade.

Outro exemplo:

“Acredito que só os mais fortes sobrevivem.”

Então preciso provar constantemente que sou forte o suficiente para continuar sobrevivendo. Paro, um momento, neste ponto para salientar que a palavra é sobreviver, o que é diferente de viver. Então para provar que estou certo, que sou forte, o suficiente, me colocarei em situações em que minha força será provada e me sentirei aliviado e seguro por estar certo. Estar certo na dualidade é estar do mesmo lado da vida em oposição a morte.

Mais um:

“Esperto" é aquele que se dá bem. O honesto é um otário que só existe para ser enganado”.

Nesta crença, a pessoa acredita que ser honesto é ser otário e que pra se dar bem na vida, ou seja, ser um vencedor, precisa aproveitar as “oportunidades”. Infelizmente muitos dos nossos políticos comungam desta crença, desta ilusão.

Neste caso, a dualidade vai pender para o lado invertido do senso comum, demonstrando como os valores que você coloca na tabela, são pessoais. Para alguém que acredita nesta crença errônea, a honestidade é um risco de vida. É se colocar a mercê de um “esperto” que irá roubá-lo, enganá-lo, prejudicá-lo. Na visão dele, enganar o outro é melhor do que ser enganado. Pois o coloca na situação de mais esperto, de melhor, de vencedor.

Apesar das cadeias estarem cheias de defensores desta crença, eles acreditam que não é a crença que está errada, mas sim, eles que não foram “espertos” o suficiente. O que contribui para baixar a autoestima deles, além de pressionar para que se esforcem mais para escapar da lei, da próxima vez.

Todos agimos com a mesma intenção: ganhar, estar certo, ser o melhor, vencer para continuar a viver. Os caminhos tortos que iremos escolher para chegar a este fim serão determinados pelas nossas conclusões equivocadas e imaturas. A dualidade oferece sempre duas opções “falsas” e aparentemente opostas. Escolhendo qualquer uma das duas opções cairemos numa armadilha. Então, abrir mão de estar certo, de ser o melhor, de ser o bom, de ser o vencedor (e isto pode significar ser o mais temido dos bandidos, o melhor ladrão de carros, o mais esperto vigarista, o vencedor na trapaça) é um caminho para se sair da dualidade. Da mesma forma que abrir mão de escolher ser a vítima, o devedor, o mais sofredor, o rejeitado também o é.

SURGIMENTO DAS CRENÇAS PESSOAIS:
Quando a criança é pequena, ela tem o universo doméstico como modelo de realidade. Ela observa o comportamento das pessoas próximas, associa os eventos e tira conclusões. Assim, também faz com os eventos naturais. Vou dar um exemplo pessoal meu: Quando eu era bem pequenina, eu achava que por ser a sombra mais escura, se eu ficasse na sombra ficaria bronzeada e por ser a luz do sol mais clara, se eu ficasse exposta ao sol, ficaria mais branquinha. Do alto dos meus primeiros anos de vida fazia sentido pra mim. Era a conclusão óbvia. Hoje, adulta percebo que aquela conclusão tirada a tenra idade era uma conclusão não–verdadeira. Isto só foi possível acontecer, porque ao longo da minha vida, esta conclusão falsa veio a baixo. Experimentando a exposição ao sol, percebi suas conseqüências e dinâmicas. Somente através da experimentação pude perceber que a minha primeira conclusão era falsa.

AS NÃO-VERDADES PRECISAM VIR A TONA:
Para serem desmascaradas, estas conclusões imaturas precisam vir à tona. E a vida é mestra em nos dar estas oportunidades. Toda vez que um conflito se estabelece ou um desconforto é sentido, eis aí uma oportunidade.

Pensando por este ponto de vista, nos damos conta de quantas vezes já tivemos a chance de testar e atualizar as nossas ”verdades” pessoais. Infelizmente, algumas primeiras conclusões, como algumas primeiras impressões não são postas a prova e se mantém como verdadeiras mesmo na vida adulta. Podemos carregar estas conclusões falsas por toda uma vida ou mais vidas e, pelo tempo que durarem, as não-verdades irão gerar conflitos. Estas falsas conclusões geram conflitos, exatamente, por não serem verdades. Quando compartilhamos da Verdade única e verdadeira não há conflito.

O termo “não-verdade”, me faz lembrar de um seriado antigo de TV – “A Família Dinossauro”. Na família havia um bebê chamado simplesmente de Baby. E o Baby repetia sempre a mesma frase: “- Não é a mamãe. Não é a mamãe.” Para ele as pessoas se dividiam assim. De um lado a mamãe e do outro todo o resto do mundo, inclusive o pai, o qual ele também chamava de “não é a mamãe.’ Então, assim como para o Baby, existe uma única e verdadeira mamãe, há uma Verdade, única e verdadeira, e tudo que não for esta verdade é não-verdade.

UNIDADE:
Uma definição muito famosa de Unidade se encontra na frase: “- Eu sou o caminho, a verdade, a vida.” dita por Jesus Cristo. Na Unidade há apenas um caminho. O caminho traçado por Deus através da "Constituição Divina". Não há dois caminhos, assim como não há, para Deus, duas Constituições, "dois pesos e duas medidas".

Percorrer o caminho é algo muito pessoal. Podemos nos afastar do caminho e sair da Unidade, mas para estar na Unidade é preciso estar no caminho, ou seja, na Verdade. A Verdade é a realidade. Não a nossa percepção pessoal e alterada da realidade, mas a realidade pura e simples como ela é.

DUALIDADE:
Dualidade é quando nos desviamos do caminho, é o resultado do afastamento da Unidade. Da mesma forma que o bandido do exemplo anterior foi para a cadeia por descumprir as leis dos homens, nós habitantes da Terra, hoje vivemos aqui, na superfície do nosso lindo planeta azul por conta, também de termos quebrado algumas leis, só que, no nosso caso, quebramos leis divinas. Quebrar as leis divinas, nos afastar da Verdade Única, da Unidade, gera um desequilíbrio e este desequilíbrio provoca uma distorção na percepção da realidade – a dualidade.

EGO:
O Ego (a nossa consciência mais exterior) foi criado junto com o corpo causal, também chamado de corpo mental. Você lembra da frase: “Penso, logo existo.” ? Você Imagina, agora, quem disse isto? Pois é, ele mesmo, o Ego.

O nosso Ego, como um sistema operacional de computador tipo Windows, Linux, MacOS, etc. gerencia os recursos, organiza, elabora, estabelece metas, e faz o que pode com as informações (muito pouco precisas) de que dispõe.  Sugiro esta comparação para dizer que o Ego é um grande instrumento e é o que temos para trabalhar a nós mesmos.

O nosso Higher self, o nosso Eu mais alto (em freqüência de vibração), nosso Eu Superior, seria o usuário que cria os arquivos, digamos assim. Ele fotografa, ele pinta, ele esculpe, ele compõe, ele redige, ele projeta e salva estes arquivos, respeitando a compatibilidade, no sistema operacional ou seja no Ego.  Acontece, porém, do Ego se identificar com as criações do Eu Superior e achar que as fotos foram tiradas por ele, que os quadros foram pintados por ele, que os livros foram escritos por ele. Apesar de ser o depositário, ele se percebe o Autor. A natureza agregadora e colecionadora do Ego gera esta confusão. Além de agregar, o nosso ego faz, também, associações. E é aí que a coisa pega. Ele tenta compreender o mundo e a realidade, associando, a maneira, ainda, precária dele, a Lei de ação e reação.

PERCEPÇÃO DA REALIDADE:
Perceber a realidade verdadeira é muito difícil do ponto de vista do Ego, a partir do seu ponto de observação. Da mesma forma que o Ego se encontra na periferia do nosso Ser Original, a Terra se encontra na periferia da Via Láctea. E estando na bordinha, quase pendurados não temos uma visão clara de como é o centro da nossa galáxia. Os cientistas se esforçam para criar imagens de como é a nossa galáxia a partir de fotos que registram pedacinhos, fragmentos da nossa vizinhança mais próxima. Assim, também, somos nós. Da nossa posição, na periferia de nós mesmos, temos apenas fragmentos para trabalhar o nosso auto-conhecimento. É difícil enxergar o centro de nós mesmos, ou seja nosso Eu Superior. Do lugar em que o Ego se encontra, na periferia do Ser, ele tenta compreender o mundo. Tenta entender como as coisas funcionam a partir da observação, associação e conclusão. Ele observa um fato e tenta relacionar este fato à Lei de causa e efeito, ação e reação. É assim que o Ego observa um evento, associa os fatos ou a aparência dos fatos e conclui uma verdade pessoal.

SUPERSTIÇÕES, PRECONCEITOS E CONCLUSÕES EQUIVOCADAS:
Partindo da nossa capacidade de associação e conclusão, vamos associando percepções incompletas e tirando conclusões nem sempre maduras e vamos criando superstições, preconceitos, conclusões equivocadas que nada mais são do que não-verdades.

FIGURAS DE AUTORIDADE:
Muitas das nossas conclusões equivocadas, das superstições, das crenças pessoais, dos preconceitos são adquiridos desde cedo, em nossa vida. Quando crianças, observamos os adultos próximos, aqueles que julgamos os vencedores, os mais fortes, os melhores. Eles são os nossos pais, nossos irmãos, nossos tios, avós, vizinhos, professores. Estas figuras representam um modelo a seguir. Estes modelos são figuras de autoridade em nossas vidas.

Por conta das figuras de autoridade ocuparem o lado do vencedor na dualidade, nos resta o lugar do perdedor, senão admirador ou crítico.

Se nos sentirmos perdedores, competiremos com eles, tentando vencê-los com a intenção de tomar para nós a posição deles de vencedor, deixando para eles, a nossa outrora posição de perdedor. A disputa pelo poder, os golpes de estado, as trapaças, os duelos, as rasteiras no chefe refletem bem isto. A percepção distorcida da realidade Única, a dualidade vê o mundo em ou eu ou ele, ou meu ou dele. A inveja parte do mesmo princípio.

Já quando os admiramos queremos nos igualar a eles e os tomamos como exemplos do que queremos nos tornar. E quando os criticamos os tomamos como exemplos do que não queremos nos tornar ou negamos ser.

Em qualquer situação, estas figuras são objeto das nossas projeções. Projetamos nelas as nossas crenças, as nossas conclusões sobre os fatos da vida. Elas refletem para nós o que acreditamos, assim como espelhos refletem a imagem que neles é projetada. Se projetamos algo feio e assustador é isto o que vemos. Se projetamos algo belo e reconfortante é isto o que vemos. Vemos nossa dualidade exposta, refletida. E aquilo que podemos aceitar em nós, aceitamos no outro, da mesma forma que aquilo que rejeitamos em nós, rejeitamos no outro.

Assim como uma janela suja compromete a visão da paisagem lá fora, a dualidade compromete a percepção da realidade. E, é através da janela suja da dualidade que olhamos para os outros e, também, para os nossos pais. E nossos pais, assim, também olham para os outros e para nós. Então eu me pergunto: “- Será que algum dia vimos uns aos outros e a nós mesmos como realmente somos? Ou será que vemos apenas partes de nós próprios projetadas nos outros? Será que o mundo não passa de uma grande tela onde projetamos a nós mesmos e enxergamos lá fora o que existe aqui dentro? Onde está a verdadeira realidade? Onde está a Unidade, como encontrá-la?

Neste mundo de dualidade e ilusão quem tem um cão guia é rei. E, por incrível, que pareça, advinha quem é esse cão guia? Logo quem? Ele mesmo. O nosso Ego. Mas por que logo o Ego? Porque a dualidade é a dimensão do Ego. Através das faculdades do Ego, de um ego saudável, de preferência, podemos encontrar o Caminho, a Unidade. A nossa Consciência de mais alta vibração, o nosso Eu Superior vai deixando as pistas do caminho para que o nosso Ego encontre e corrija, limpe e purifique a confusão, as conclusões equivocadas e encontre a verdadeira realidade. A verdade por trás da dualidade.

A QUEDA:
A dualidade é como uma doença. É como um câncer de garganta gerado por anos de tabagismo. Aos pouquinhos, desde a nossa criação, fomos adoecendo sem perceber, fomos nos afastando da Verdade, fomos percebendo as coisas distorcidas. A dualidade foi se estabelecendo como uma tontura que chega devagar e depois se solidifica e compromete toda a nossa vida.


TRANSFERÊNCIA:
Sair da dualidade é ir curando essa anomalia. A vida, todos os dias, nos oferece as oportunidades para desfazermos as ilusões. Cada dor, cada conflito é um sinalizador de oportunidades, e uma grande oportunidade está na nossa relação com os nossos pais. De modo geral, as ilusões, as crenças em relação aos nossos pais, a dualidade deles, nos afetaram de maneira mais intensa. Pela convivência e até pela ausência, eles nos afetaram, nos influenciaram, despertaram a nossa própria dualidade latente. Eles são nosso maior e melhor espelho, principalmente, se nossas relações com eles são conflituosas e difíceis. As relações difíceis com ambos os pais, ou apenas com um deles, podem perdurar na vida adulta e este conflito será transferido para outros relacionamentos, para outras pessoas nas quais projetaremos nossa relação mal-resolvida com nosso pai ou com nossa mãe e com os quais entraremos em conflito. É comum que cônjuges e figuras de autoridade assumam esta transferência.

Em nossa infância, nossos pais eram as maiores autoridades. Então, chefes, professores, síndicos, delegados, padres, juízes passam a refletir essa nossa relação mal-resolvida com os nossos pais.

A autoridade, por si só, já representa o “vencedor”. É ela quem manda, é a autoridade que exerce e detém o poder. Na nossa visão dualística das coisas, se um é o vencedor, o outro será o perdedor. E, na relação com a autoridade, a autoridade é o vencedor. Logo, nos cabe a posição, desconfortável do perdedor. É claro, que isto é uma ilusão, mas é assim que a ilusão funciona, sendo sentida como uma verdade. Apesar de intelectualmente, a dualidade, muitas vezes ser considerada absurda, a nossa consciência infantil concluiu, há muito tempo, que a vida era assim e assim é, até hoje. Até ser revista e atualizada. Para rever e atualizar nossas conclusões infantis precisamos investigar os nossos conflitos e as nossas dores a partir do ponto de vista da dualidade.

TRABALHANDO A DUALIDADE:
Cada doença tem em si mesma a sua própria cura. Como um antídoto. E o antídoto para a dualidade é entrar numa das polaridades e vivenciar a experiência, perguntando a cada momento: Qual a verdade desta situação? Qual a verdade, além da minha verdade pessoal e da verdade pessoal do outro? O que está por trás da ilusão?

Algumas técnicas ajudam a encontrar estas respostas. Fazer uma tabela de duas colunas e colocar lado a lado os opostos aparentes da dualidade, inserindo você e o outro em cada lado da tabela ajuda a clarear a situação de conflito. Saber quem está na posição de perdedor e quem está na posição de vencedor. Quais as atitudes consideradas vencedoras, melhores, boas, vantajosas e quais as atitudes consideradas perdedoras, piores, em desvantagem. Visualizando esta tabela fica mais claro e fácil para o ego encontrar, diagnosticar e reparar os erros. As muitas técnicas disponíveis em psicologia e terapias de autoconhecimento ajudam a ir desconstruindo as ilusões. Mas nenhuma literatura, nenhuma técnica substitui a vivência consciente da experiência. Atravessar a polaridade, ir da não-verdade até a verdade que está do outro lado (não até a outra polaridade, é bom lembrar). Na dualidade, a verdade da Unidade é transfigurada e dividida em dois opostos, em verdade pessoal e em mentira ou ilusão. A Verdade verdadeira, por assim dizer, não é a verdade que aparece em oposição à ilusão ou à mentira, mas a Verdade básica que existia antes de ser degenerada, distorcida em duas polaridades.

O grande objetivo é ir além da dualidade, além das polaridades. É fazer o caminho de volta, é recuperar a saúde, é encontrar a cura, a Verdade, a Unidade. Aí não haverá mais conflito nem sofrimento.

terça-feira, 18 de maio de 2010

PRESSA DE QUÊ? de Lisélia de Abreu Marques

Todo dia ouço alguém comentando e até reclamando da aceleração do tempo. Tomo por mim, até os anos 80 eu conseguia acompanhar a velocidade do tempo. De lá pra cá, principalmente depois do ano 2000 a coisa desandou. Estes últimos 10 anos voaram. Quase não dá para acreditar que já se passaram 10 anos do século 21. Todos comentam que estão sentindo a aceleração do tempo e esta aceleração está afetando o seu dia-a-dia, a sua vida social e familiar. Dizem que esta aceleração está pressionando, forçando a acelerarmos junto com o tempo para darmos conta de fazer o que fazíamos antes, tranquilamente, num mesmo período de tempo.

Acompanhando os comentários sobre a aceleração do tempo vem as possíveis explicações para o fato e a negação de que esta aceleração seja real. Dizem os cientistas que os relógios não disseram nada a respeito e continuam, atomicamente, marcando os minutos de sempre e que a nossa percepção da realidade, neste caso, está enganada.

Para justificar este ponto de vista usam explicações psicológicas das mais variadas. Uns especulam sobre a “novidade e a repetição dos eventos” e exemplificam falando que quando a gente vai a um lugar desconhecido pela primeira vez, demora um tempão pra chegar lá e das vezes seguintes a gente vai rapidinho. No relógio marcam os mesmos minutos, todas as vezes, mas a nossa sensação de tempo muda. A explicação é uma verdade. A repetição dos eventos muda a nossa sensação pessoal de tempo. Concordo.

Outra explicação boa é da idade do observador. Pra um bebê de um ano de vida. Um ano é uma vida inteira. Já aos dois anos, um ano é só meia vida. E aos 10 anos de idade, 1 ano é só 10% da vida que ele já viveu. Aos 40 anos, 1 ano é 1/40 avos da nossa vida. A idade, realmente, muda a nossa perspectiva com relação ao tempo. Os mais jovens sentiriam o tempo passar mais lentamente e os mais velhos sentiriam o tempo mais rápido. Mas pergunta pra uma criança o que ela acha disso? Elas também sentem que o tempo está voando.

Eu, pessoalmente, chego a pensar que fomos nós quem aceleramos as rotinas diárias e, sem perceber, projetamos esta aceleração na nossa percepção do tempo.

Neste caso, teríamos uma percepção falsa coletiva, ou melhor, artificial, criada pela aceleração do movimento que impusemos ao mundo moderno. Nós criamos máquinas e mais máquinas para fazer tudo mais rápido. Imediatamente, instantaneamente, se possível. Carros, aviões, computadores, celulares. Pensou, chegou.

Antigamente precisávamos de muito mais tempo para realizar as tarefas. Se alguém queria registrar uma imagem, precisava de tempo para pintar um quadro. Hoje nós temos câmeras digitais que registram centenas de imagens em instantes.

As distâncias que eram percorridas em dias ou semanas hoje são percorridas em alta velocidade. Atravessamos o mundo de lado a lado em horas!

A comunicação pessoal que era por carta, através dos correios hoje é imediata por e-mails, MSN, SKYPE, etc.

A informação que demorou muitos séculos para se organizar, hoje é produzida e distribuída em alta velocidade. Nós aceleramos o mundo. E, talvez, agora, estejamos nos sentindo atropelados pela velocidade que imprimimos à sociedade.

A “imediatice” das coisas, decretou a morte da pausa. Esperar uma resposta, uma carta, esperar um execução de tarefa se tornou sinônimo de tempo perdido, de lerdeza, de ineficiência, de improdutividade.

A natureza tem seu movimento natural de ação, pausa e resultado. É na pausa que a transformação acontece. Coloca-se a semente na terra e pausa para germinação. Sova-se a massa do pão e pausa para a massa crescer. A pausa é o que marca o final de uma fase e o começo de outra. É o período de descanso, de comemoração da etapa terminada, de descanso para se começar uma nova fase.

Mas no mundo atual não há pausas, intervalos ou descanso. As cidades não param, o transito não para, as fábricas não param e nos orgulhamos de nossa produção incessante, não observando o ritmo natural das coisas, ou melhor, atropelando o ritmo natural como se as pausas fossem falhas na produção, retardo nos resultados, ineficiência. E sem intervalos o tempo fica intermitente, incessante, simplesmente não para nunca, não finaliza, não recomeça, se mostra imperativo num eterno continuum. A pausa é o período necessário para o amadurecimento, mas o mundo moderno não chega a amadurecer. A gente come verde, come cru, come frio, come em pé e engata um movimento no outro como uma máquina, sem interrupção.

Uma das intenções com relação às máquinas era que colocando as máquinas para trabalhar por nós, teríamos mais tempo livre para o lazer, a família, os hobbies, o prazer. Mas o que está acontecendo é que não funcionou assim. Hoje além de termos que correr para acompanhar a velocidade das máquinas, elas, também, roubaram a cena doméstica.

Nós passamos grande parte do nosso dia trabalhando para, em última análise, poder consumir. E consumimos, comprando TVs modernas e grandes, comprando assinatura de TVs a cabo, comprando notebooks, comprando celulares, comprando videogames, internet. Isto quando conseguimos decidir qual equipamento comprar, pois todo dia lançam o melhor, o mais novo, o mais moderno, o mais eficaz e não querendo ficar para trás comprando um equipamento que ficará obsoleto em 6 meses nos angustiamos para acompanhar a velocidade do mercado. Não podemos esquecer de mencionar aqui os automóveis, que tem o modelo do ano seguinte lançado em abril do ano corrente. No segmento automobilístico, o futuro chega antes. Bom slogan.

Finalmente, depois de tudo comprado, chega a hora de desfrutar do nosso conforto merecido e nos momentos de descanso em casa com a família, nos retiramos, nos apartamos dos demais e vamos para o nosso computador “de última geração” e nele criamos personagens que habitam e se relacionam com outros personagens nos mundos virtuais, e, inconscientemente, quase sem notar, acabamos trocando vida real por vida virtual, ou seja, vida real por arremedo de vida.

E se não fosse isto, ruim o suficiente, dedicamos o tempo - que seria para o convívio com a família, com os amigos, com as pessoas, com os nossos animais de estimação - para os objetos, as máquinas, as coisas.

Mas o mal não para por aí. Estes mesmos objetos de desejo acabaram se transformando em nossos fiscais e cobradores, em nossos bedéis. Por nos acompanharem, em todos os momentos, são utilizados para nos sinalizar os compromissos com suas agendas e bips, nos encontrar onde quer que estejamos, nos chamar ao trabalho, interromper nossos poucos intervalos, nossas raras pausas, nossos breves momentos de descanso. Onde quer que estejamos somos encontrados e convocados a fazer, a cumprir, a realizar tarefas sem parar, exatamente como as máquinas que criamos.

Parece uma epidemia. As demandas se aglomeram à alta velocidade e os “fazedores”, com suas listas de tarefas em punho, se somam aos milhares, enquanto tentam cumprir uma agenda cada dia mais apertada e corrida na ilusão de ser alguém na vida, numa vida sonhada para se realizar num futuro distante que só irá se concretizar se sacrificarmos o nosso presente. Então, sacrificamos o dia de hoje para “sermos alguém” amanhã, como se hoje não fossemos nada, nada além de máquinas humanas cumpridoras de demandas.

Não sejamos tão negativos, algumas vezes chega o dia em que finalmente somos considerados “alguém na vida” e quando este dia chega, somos importantes demais, ocupados demais, indispensáveis demais e, então, não podemos estar com quem amamos “porque não dá tempo”.

Acabamos criando uma armadilha e ficamos presos nela.

A falta de tempo nos angustia, nos pressiona, nos faz sofrer, e se há um momento em que o tempo desacelera violentamente, é quando estamos sentindo dor, quando estamos sofrendo. Aí o tempo não passa. Fica parado naquela dor. Eis o mecanismo de homeostase para esta loucura. O equilíbrio se torna mais necessário, mais duro quando o desequilíbrio está grande.

Se a vida fosse um carro acelerado, eu diria que a desaceleração pode se dar de três jeitos: Antevendo os fatos, os obstáculos, o motorista reduziria a velocidade antes do choque causado pelo desequilíbrio que esta alta velocidade trás, ou seja, reduziria a velocidade antes de comprometer a saúde física, emocional, familiar, psicológica. Outra opção é deixar para frear em cima da hora, numa emergência, como no caso de um infarto, de um câncer ou divórcio. E a ultima opção, seria o próprio choque. O famoso “não parou por bem, parou por mal.” Nas horas em que paramos em decorrência de um choque de realidade, como quando o filho se envolve no narcotráfico ou ocorre uma enchente, um desabamento, um terremoto e imediatamente a vida muda de perspectiva e o que é realmente importante volta a cena. As pessoas, as vidas, o alimento, o abrigo tudo volta ao seu tamanho real.

Todas estas perspectivas são lógicas e plausíveis. Mas será que, realmente, explicam a sensação de aceleração do tempo?

Será que tudo não passa de uma percepção alterada da realidade, motivada pelo nosso estilo de vida acelerado? Aceitar isto é aceitar que nós aceleramos o tempo, ou melhor, que nós criamos o tempo, pois o tempo do relógio, da rotação e da translação dos astros não é tempo, é movimento e só existe a concepção do tempo na mente humana.

O relógio é o movimento dos ponteiros, o dia é o movimento da Terra ao redor do seu eixo, o ano é o movimento da Terra ao redor do Sol, as horas são frações deste movimento. São pequenos movimentos. E o tempo? O que é o tempo? Imaginação?

Se o tempo é uma criação mental nossa em relação ao movimento. E a aceleração ou desaceleração são atributos do movimento, uma movimentação nossa, uma aceleração imprimida nas nossas atividades diárias, na nossa sociedade, no nosso mundo atual poderia estar impregnando a nossa criação mental chamada tempo. Sendo assim, o tempo pode ser pessoal e coletivo, circunstancial e não haveria relógio no mundo que conseguisse marcar a sensação de tempo que estamos sentindo coletivamente.

Nesta linha de pensamento, se nós aceleramos os movimentos com toda a nossa tecnologia e isto influenciou a nossa percepção do tempo. Desacelerando a velocidade dos nossos movimentos, “o tempo passaria mais devagar”. Se não fizéssemos nada, passássemos o dia descansando, a sensação de tempo mudaria e o dia seria lento, lento. É assim que acontece? As suas férias demoram uma eternidade? O seu domingo, jogado no sofá, vendo TV, não acaba nunca? E não sei quanto a você, mas os meus fins de semana parecem horas, as minhas semanas não passam de 3 dias e os meus meses não chegam a duas semanas e meia. Um mês de férias não dá nem pra começar.

Se o tempo não desacelera quando eu desacelero, ele existiria, então, como uma instância independente? Será que o tempo é apenas uma sensação mental ou ele existe de alguma forma? E se existe, ele está com pressa de que, pra correr tanto?

Se o tempo existe independente de mim e todos sentem que ele está acelerado, negar isto não é saudável. Negar a percepção de uma “realidade” cria confusão. Será que é apenas um descompasso, uma incapacidade dos nossos relógios de mensurarem a dimensão na qual, nós humanos percebemos o tempo? Tornar as máquinas mais eficientes talvez fosse o caminho para sincronizar o tempo do relógio com o tempo da percepção humana. Os nossos relógios que servem para medir o tempo nos dizem que 60 minutos demoram 60 minutos para passar.

A minha mente, que também tem um” relóginho” pessoal não concorda com isto. No “relóginho” da minha mente, 60 minutos estão passando em 40. O mais provável é que o relógio físico esteja certo. E o meu acelerado. Então, quem acelerou fui eu, mesmo que eu esteja parada, sem fazer nada, assistindo TV. Se não são, então, os meus movimentos físicos que aceleram ou desaceleram o meu relóginho mental, que movimento meu faz isto?

Se não é o meu corpo, seria a minha mente? Será que a mente humana estaria acelerada, teria dado um pulo, avançado em relação às gerações anteriores? Será velocidade, evolução? Pensou, está pronto. Pensamento e movimento juntos.

Se há alguns anos eu não sentia o tempo passar assim, quer dizer que este movimento acelerado da minha mente começou a acontecer recentemente. Então, este “salto evolutivo” estaria acontecendo agora, neste período, nestes últimos translados ao redor do Sol.

Será que a minha mente acelerou e o meu corpo não está dando conta de acompanhar? Será que estes meninos e meninas hiperativos são frutos da evolução da espécie? Alguém chame o Darwin, pra mim, aí, por favor!

Se hiperatividade fosse bom, não teria que tomar remédio pra desacelerar.
Quando caminhamos por um parque, observamos os jardins e detalhes da calçada, vemos as pessoas que passam e sentimos a brisa e o calor do sol. Fazendo o mesmo percurso de moto, as coisas mudam. A medida que aumentamos a velocidade, somos forçados a focar a nossa atenção nos obstáculos que insistem em se aproximar de nós enquanto desviamos deles como num joguinho de videogame. A velocidade imprime pressão ao passeio por conta disto. E, enquanto nos preocupamos com os obstáculos, perdemos de olhar para as flores.

Da mesma forma, vivendo uma vida acelerada, temos a nossa atenção mais direcionada aos obstáculos do que às flores. Isto é o mesmo que dizer que perdemos qualidade de vida. Hoje, a quantidade de eventos, informações, atividades que desfilam na nossa vida em alta velocidade age como obstáculo à qualidade de vida.

Estamos indo mais rápido para onde? Hoje em dia não dá tempo de envelhecer. Por conta de uma vida repetitiva tivemos muito do mesmo e poucas experiências originais e, exatamente, por conta disto ficamos com a sensação de ter vivido pouco, nos sentimos jovens e sedentos por mais vida, mais experiências. E, é cada vez mais freqüente vermos “idosos” ativos, fazendo até paraquedismo. Aos 40 anos nos sentimos, ainda, meninos e meninas.

Mas uma coisa eu sei, acelerando, vamos mais rápidos em direção ao fim, à morte.

Então morremos velhos no corpo e jovens na alma e muitas vezes tendo poucas vezes visto as flores ao longo da estrada. Será isto evolução ou degeneração da qualidade de vida?

Em defesa da qualidade de vida, alguns movimentos “Slow” surgiram pelo mundo afora buscando resgatar uma velocidade sadia para os eventos. Tempo para comer, tempo para dormir, tempo para viver no presente. A aceleração do tempo nos remete sempre a uma busca frustrada pelo futuro. O que queremos parece estar sempre além da linha do horizonte. E precisamos correr para chegar lá antes que o sol se ponha e o horizonte desapareça. Talvez esteja aí, a nossa ilusão. O motivo da nossa aceleração. Tentamos chegar ao futuro antes que ele se torne presente, pois acreditamos que o nosso pote de ouro está lá longe, no final do arco-íris. Ilusão, ilusão, ilusão. Corremos atrás de ilusões, de miragens no deserto, e correndo deixamos de ver as flores e quando percebemos a viagem chegou ao fim e ao invés do pote de ouro, encontramos, ao final do dia, inevitavelmente, a dona morte, nos esperando para irmos dormir.

Afinal de contas, você está com pressa de quê?

domingo, 18 de abril de 2010

FERIDAS EMOCIONAIS de Lisélia de Abreu Marques

O que acontece quando se está machucado e alguém ou algo toca bem em cima do machucado?
Geralmente sentimos dor e, em seguida, raiva e afastamos de nós, o mais rápido possível, às vezes, até de forma exagerada e estabanada, o que ou quem tocou a nossa ferida. Nesta reação de defesa , por vezes quebramos algo  ou até machucamos alguém.

Esta mesma reação de defesa acontece, quando alguém ou situação, ativa uma dor emocional ao tocar uma ferida de rejeição ou inferioridade, por exemplo.

Se alguém faz alguma coisa, mesmo sem querer, que nos faça sentir ameaçados, imediatamente acionamos todo o nosso arcenal de defesa e ataque.

Você já reparou que quando estamos com um dedo do pé machucado parece que todo mundo tropeça, exatamente, naquele dedo? E quando pegamos muito sol e estamos ardidos, queimados, aí mesmo é que parece que todo mundo resolve nos abraçar e dar tapinhas nas nossas costas? A impressão é que estamos atraindo estes eventos mais do que nunca. Será isto verdade ou ilusão? Será que estão nos abraçando mais ou tropeçamos mais vezes ou será que por estarmos  feridos e mais sensíveis, qualquer toquezinho machuca, dói? Será que perceberíamos a quantidade de abraços se não estivessemos queimados pelo sol? Provavelmente os abraços são os mesmos, os tropeços são os mesmos. O que mudou foi a nossa condição. Estamos feridos e, portanto, mais sensíveis, mais vulneráveis aos toques e solavancos. Os mesmos abraços em condições normais seriam até prazerosos e desejáveis. Percebemos, então,  que a nossa condição de saúde faz total diferença na maneira como percebemos as relações do mundo exterior com a gente.

É necessário estar atento para distinguir se realmente o outro está nos ferindo ou nós já estávamos feridos quando ele nos tocou. Quando nós não estamos conscientes da nossa situação , quando estamos cegos, inconscientes, para as nossas feridas, os nossos machucados, acabamos por culpar e acusar o outro dizendo que ele nos feriu, e , às vezes, o ferimento é muito velho, está lá aberto há um tempão e a gente não dá atenção a ele porque a dor só aumenta quando alguém se aproxima de nós e toca nele.

De modo geral, quando temos um ferimento que não queremos que doa, nós nos afastamos de tudo e de todos que possam tocá-lo. O triste é quando isto acontece na nossa vida emocional. Quando nos isolamos e não deixamos ninguém chegar perto, ninguém nos tocar, acreditando que assim não sentiremos a dor e ficaremos bem, sozinhos.

Quando somos adultos, com certeza, carregamos ferimentos abertos ao longo da vida. Estes ferimentos, alguns já se curaram e sumiram, outros deixaram cicatrizes, mas não doem mais e outros, ainda, estão abertos, esperando por cura. São justamente estes últimos, os que doem quando tocados. Enquanto a queimadura de sol na nossa pele não se curar, qualquer abraço gostoso vira sofrimento. E vamos evitar os abraços gostosos até nossa pele se recuperar. Assim, é, também com as feridas emocionais. Enquanto estiverem abertas, evitaremos a proximidade, o aconchego, a troca com os outros. É preciso curar nossas feridas para aproveitar o toque, a troca, os relacionamentos. Quando estamos inconscientes das nossas "feridas de infância" é comum atribuirmos aos outros a responsabilidade pela nossa dor. Dizemos: "- Fulano me magoou.", "- Cicrano me fez sofrer." E não questionamos  se foi isto mesmo ou se simplesmente Fulano e Cicrano tocaram uma ferida aberta e como costuma acontecer com ferimentos expostos, doeu.  Será que este mesmo toque de Fulano ou Cicrano nos teria ferido se estivessemos saudáveis?

Tomando consciência  de que o nosso sentimento de inferioridade, o nosso medo de rejeição, a nossa mania de perseguição, o nosso sentimento de vitimização  já estavam lá antes que Fulano e Cicrano aparecessem, damos um grande passo para melhorar nossos relacionamentos: Assumimos a nossa responsabilidade pelo nosso bem estar. Nos damos conta de que temos pontos que precisam ser curados. Para isto precisamos olhar para eles, conhecê-los. Tudo começa com o autoconhecimento. Autoconhecimento e autoresponsabilidade nos tiram da situação de vítimas indefesas do mundo. E, é, exatamente por isto, que, por incrível que pareça, muitas pessoas não querem olhar para dentro, não querem descobrir que são responsáveis por si mesmas, preferem continuar culpando os outros e cobrando deles a solução para os seus problemas, preferem a dependência à independência responsável.

É extremamente comum atribuirmos  CULPA aos outros pelas nossas dores. Como é cômodo. Toda culpa requer castigo ou perdão para  aplacá-la. Se perdoamos, nos consideramos magnânimos; se castigamos, nos sentimos "poderosos" e extravasamos, muitas vezes, nosso ódio através da crueldade, nos tornando mais insensíveis à dor dos outros e à nossa própria dor. A crueldade é um tipo de analgésico. E, sem sentir, culpando, condenando e executando a pena sobre os outros, repetidas vezes, ao longo da vida, ficamos cada dia mais anestesiados para as nossas dores e menos sensíveis, deixamos de sentir que elas existem, até que, de novo, alguém venha e as toque.

Observando por este ponto de vista, percebemos que o toque do outro ao despertar a nossa dor é um auxílio, uma ajuda que recebemos do mundo quando não estamos cientes de nossas feridas e, portanto, incapazes de ajudar a nós mesmos nesta questão. A dor que sentimos é um alerta, uma chamada, uma chance para o despertar. Infelizmente, quase sempre, além de desperdiçarmos a nova chance, ainda maltratamos aquele que seria o emissário do alerta, aquele que, mesmo sem saber nos ajudaria a olhar para as partes em nós que precisam de cuidado, de atenção, de cura. E, ao invés de agradecê-lo, lembrando o que disse Jesus: "Amai os vossos inimigos." , nós o enxotamos, o maltratamos, o culpamos, condenamos e punimos. E, então, voltamos à nossa caverninha, ao nosso isolamento, acreditando que separados e sozinhos estaremos seguros, não sentiremos dor.

A maneira mais saudável de se "evitar" a dor é a cura dos ferimentos. O isolamento ajuda a perpetuar a situação doente através do tempo e favorece outros desequilíbrios, já que somos seres sociais e precisamos de relacionametos saudáveis e calorosos. Da mesma forma que fazemos com um dedo machucado ou com a pele queimada pela nossa exposição exagerada e descuidada ao sol, é prudente e saudável tratar dos nossos ferimentos emocionais para que eles não se agravem na convivência não saudável com os demais. Para isto é preciso conhecer as nossas dores, saber como foram originadas, que atitudes destrutivas tomamos que não as deixam cicatrizar e mais ainda, assumir a responsabilidade por elas e pelas mudanças que, finalmente, trarão a cura. A nossa saúde é, acima de tudo, nossa responsabilidade e patrimônio e depende de coragem e disposição para limpar e tratar os traumas, os malentendidos, as mágoas.

Curando nossas feridas emocionais, a proximidade não soará como ameaça. O isolamento não será mais uma "segurança". As "falsas e inúteis soluções" diminuirão. O medo do contato com o outro diminuirá e poderemos desfrutar dos toques e abraços dos outros sem medo e com prazer.

terça-feira, 6 de abril de 2010

PERGUNTAS SOBRE AUTOESTIMA de Lisélia de Abreu Marques

O que é autoestima?
O que é amar a si mesma?
Como é possível amar alguém cheio de defeitos, injusto?
É possível amar este alguém (egoísta, injusto, tirano, cruel, insensível, falso, etc.) quando este alguém sou eu mesma?
Se condeno tudo isto nos outros, como lido com isto dentro de mim?
Arranjo desculpas?
Justificativas?
Explicações?
Jogo tudo pra baixo do tapete?
Consigo enganar a mim mesma?
Nego?
Fico cega aos meus defeitos e jogo toda a culpa sobre os outros para eu poder me gostar?
É possível, pra mim, me amar sabendo disto tudo?
É possível, então, aceitar o ódio que sinto por mim mesma?
É melhor negar?
Autoestima é fechar os olhos pros meus defeitos e ver somente as minhas qualidades?
Eu consigo me enganar por muito tempo?
Será que consigo me enganar por um momento que seja?
Como é possível amar a mim mesma sendo imperfeita?
Se eu nao conseguir me amar, vou conseguir amar outra pessoa?
E os outros, será que me amam?
E, o que é, exatamente, amar?
Será que eu sei amar? E odiar, eu sei?
Será que a depressão,  o boicote, o "não" à felicidade são suficientes para aplacar a minha culpa por não ser perfeita?
E se não for, Deus vai me castigar?
E se os outros descobrirem meus defeitos, vão me rejeitar?
É melhor esconder?
É melhor me matar?
O que fazer para sair deste labirinto?
Se eu soubesse amar, eu sairia deste labirinto?
E se alguém me amasse, eu sairia daqui?
Cadê o amor?
Será que o amor é apenas para os perfeitos?
É possível amar alguém imperfeito, alguém com defeitos?
E eu, eu amo alguém imperfeito, ou eu exijo perfeição do outro para amá-lo?
Meu amor é condicional?
Se eu nao sou perfeita... é possível amar os maus?
Os maus também amam?
Alguém me ama?
E será que sabe que não sou perfeita?
Se outro alguém me ama, é possível eu também me amar?
É possível eu me amar apesar dos meus defeitos? Será isto o amor?
Ouvi dizer que o amor cobre a multidão de pecados, cobriria os meus?
Eu mereço?
O que me faria merecedora? Não ter pecados?
De que serviria, então, o perdão? Sem pecadores, a quem perdoaria?
Perdão é amor?
Sou capaz de amar?
Eu amo alguém?
Sou capaz de perdoar?
O perdão é justo? E, o amor, é justo?
Só quem é bom merece ser amado? Quem disse isto?
Jesus amou os pecadores, então, se o amor não é justo, é o amor, um pecado e, é Jesus um pecador?
É o perdão uma injustiça com o perfeito que não peca e, portanto, não precisa de perdão?
Foi, o perdão, feito somente para os que precisam ser perdoados?
E o amor, foi feito pra todos? Até pra mim?
Onde está a confusão, cadê a falsa verdade com relação ao amor?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

A FÉ DAS ARANHAS de Lisélia de Abreu Marques

Passeando no jardim da minha casa, parei para observar as aranhas. Uma delas, como uma artesã, fiava sua teia durante algum tempo. Fiava, fiava, cuidadosamente a sua renda. Observei outra e percebi, que depois de feito o seu delicado trabalho, elas costumam ir para o centro da teia e lá, aguardam, quietinhas e confiantes, no sol, na chuva ou no vento, para que o Universo faça a parte dele trazendo a refeição.

E me dei conta que na Criação é assim. O fruto do trabalho é gerado no ventre do repouso, embalado pela confiança. Observei, também, que a árvore faz a semente e a deixa repousar na terra, confiante no milagre que irá despertar a semente para a germinação. E que o padeiro sova a massa e deixa que, no repouso, a massa cresça para que depois, no forno, se transforme em pão.

Atividade e passividade. Ação e repouso. Fé. Eis os elementos da criação.
É preciso fé, para fazermos a nossa parte acreditando que o Universo fará a dele.
E, é preciso que façamos a nossa parte para que o Universo possa fazer a parte dele.
É, esta relação, esta parceria entre a criatura e o universo, que faz surgir o novo. E neste processo de criação, a ansiedade e a descrença atrapalham. Plantar a semente e ficar remexendo a terra para saber se a semente já está germinando ou toda hora abrir o forno para ver se o bolo está crescendo, impedem que o Universo faça a parte dele. É preciso um voto de confiança, é preciso acreditar, é preciso esperar na fé.

Trabalho e fé são as ferramentas da natureza. As aranhas sabem e tecem cuidadosamente a sua melhor seda e oferecendo o seu trabalho ao Universo, se recolhem ao centro, aguardando em silêncio, deixando a teia em repouso. Findo algum tempo este repouso se quebra, a teia se agita e elas sabem que foram recompensadas. A refeição está servida.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Perguntas e Respostas em FAÇA A SUA ESCOLHA de Emmanuel por Langa

Você disse que Gaia está se duplicando. Ela está criando matéria nova?
Matéria não é a substância da qual seu planeta é feito, Gaia é feita de consciência.

E quem, ou o quê, decidirá em qual Terra eu irei continuar vivendo?
Sua consciência irá alinhar você com o portal interdimensional que melhor apoia sua frequência de consciência mais dominante.

No seu último contato você disse: “sua consciência orientará a viver uma vida que é honrada e significativa”. O que é uma vida significativa?
Uma vida significativa é uma vida com propósito. O crescimento da consciência cria clareza quanto ao real propósito na vida. Sua alma está neste Planeta por um propósito, quanto mais cedo você descobrir qual é o seu propósito, mais cedo você pode começar a tornar sua vida significativa. E quanto mais significativa sua vida for, mais bem-aventurado você será.

Eu li que em dezembro de 2012 vários portais se abrirão na Terra, e através desses portais algumas pessoas ascensionarão. Nós iremos saber com antecedência a localização dos portais?
VOCÊ é o Portal. O Campo Unificado da Divindade não está fora, mas sim, dentro de você.

Um tempo atrás você mencionou que a “liberdade total” está a passos de distância; como damos esses passos?
Dêem um passo por vez, e dêem-no em seu próprio compasso, com o compasso que lhe é natural. Descubra seu próprio ritmo, e você conseguirá andar muito mais. A liberdade é um direito seu por mérito da sua existência. Amor e Liberdade são as vibrações dominantes do Universo, e é a única coisa que o Universo tem para oferecer

Eu faço uma hora de meditação todos os dias. Isto basta como preparação para a ascensão?
A Meditação ajuda em muitos aspectos da espiritualidade, mas nada tem a ver com ascensão. Os animais não meditam e a maioria deles irá fazer a ascensão. Por outro lado, muitos dos indivíduos que praticam meditação não irão ascensionar.

A chave da ascensão está no seu coração, na sua consciência, e na sua conexão com o Tudo Que É.

No seu plano de terceira densidade de existência, o Tudo Que É se manifesta principalmente através da natureza, então conectar-se com a natureza é um dos modos mais efetivos de se conectar com a Fonte.
Se você se lembrar de todos os grandes mestres espirituais que andaram sobre a face do seu Planeta, todos eles se iluminaram na natureza, sentando-se sob árvores, nadando em rios, dormindo em cavernas, etc. Estar na natureza é o modo mais fácil de você experimentar a unidade com a vida. O problema atualmente é que mais da metade da humanidade está desconectada da natureza. Os humanos acreditam que eles são superiores à natureza e eles têm o direito de usar os recursos dela sem dar nada de volta, e isto cria o desequilíbrio e a desconexão com a Fonte.


Como posso experienciar a iluminação?
A iluminação não é algo que você pode experienciar porque a experiência acontece na mente, a iluminação está além da mente, só ocorre quando não há mente (sem ego). Iluminação é só uma palavra utilizada para descrever o resultado do processo de fundir sua consciência individual com a consciência do seu Eu Superior.

Sempre procuro por conhecimento novo. Que tipo de conhecimento eu deveria procurar nestes tempos de mudança? Pare de procurar fora de si. O auto-conhecimento deve ser a única busca. Conhecer tudo sem se conhecer é inútil. Todo conhecimento não é essencial e somente cria a ilusão de “conhecer”, e a ilusão é o que impede você de entrar em sintonia com o seu Eu Real. Se você se tornar um “conhecedor”, você perderá algo infinitamente mais valioso, você perderá a sabedoria. Conhecimento não é sabedoria e não irá mudar nada em você, somente a sabedoria transformará você. Desaprenda o conhecimento e você ficará assombrado com o quanto o conhecimento estava impedindo a sua Divina metamorfose.

Jesus e Sananda são a mesma entidade? Se a noção de tempo está presente na pergunta/resposta, o Príncipe Sananda é o Eu Superior de Jesus Cristo. Se for de uma perspectiva atemporal, eles são a mesma entidade.

...como posso ter paz da mente?
Você não pode. Mesmo que tenha uma ou outra. A mente é o que está impedindo que você tenha paz. Descarte a mente e a paz florescerá.

Com tantas “verdades” e “guias” por aí, como saber a qual deles seguir?
Não siga ninguém. Você é o seu melhor guia.

Muitos mestres disseram que nós viemos para a terceira densidade para aprender a Amar, está correto?
Isto é incorreto, Amar não é preciso ser aprendido. Vocês nasceram para uma vida fora do Amor, mas vocês SÃO Amor, vocês simplesmente precisam se lembrar. O principal aprendizado para um ser da terceira densidade é transcender a dualidade lembrando-se de Quem você é e de Onde você veio.

Você disse que os nossos pensamentos criam a nossa realidade; se mantivermos nosso pensamento em certa frequência, quanto tempo leva para criar uma nova realidade?
Os pensamentos criam emoções e as emoções criam a realidade a partir do Plano Formativo. O Plano Formativo existe além do espaço e tempo, portanto seus pensamentos podem se manifestar na realidade na velocidade da luz. Qualquer mudança na sua consciência afeta instantaneamente a Consciência Universal, consequentemente.
http://www.emmanuelmessages.com/

terça-feira, 30 de março de 2010

QUEM SOU EU? de Lisélia de Abreu Marques

Somos gerados no ventre da nossa mãe como se fossemos parte do corpo dela, após o nascimento, temos o cordão umbilical rompido e com o tempo percebemos que existem dois seres, mamãe e eu. Aí identificamos mamãe e dizemos “aquela é mamãe e este sou eu, e logo depois vem a pergunta básica, e “quem sou eu?”

A pergunta básica: “quem sou eu” move a personalidade a buscar por resposta que satisfaça à pergunta.
Usando da “agregação”, a nossa personalidade passa a buscar esta resposta no meio exterior. E através da identificação vai agregando características externas e criando a imagem de quem pensamos ser.

Agrego a nacionalidade e digo que sou brasileiro(a), me identifico com o sexo de nascimento e sou homem ou mulher, me identifico com a região em que nasci e passo a ser carioca, gaúcho(a), baiano(a), etc. Minha raça define se sou branco(a), negro(a), índio(a) ou oriental. A religião que herdei ou adotei passa a me definir também. O nome que me foi dado é a minha bandeira.

Catamos os valores que existiam antes do nosso nascimento e tomamos como sendo nossos valores. Agregamos pensamentos pré-existentes e estes pensamentos nos conectaram a emoções que não eram nossas, mas nós a sentimos e passamos a agregá-las e achar que estes sentimentos somos nós. E passamos a amar um time e a desprezar um inimigo que já existiam antes de nós.

Tudo vem de fora e é costurado, digamos assim, como numa colcha de retalhos. E esta colcha de retalhos chamamos de EU.

Este Eu exterior, este eu pegado emprestado do meio, é o que chamo de personalidade.

A personalidade é aquilo que é perguntado na hora que vamos preencher um cadastro: nome, endereço, idade, sexo, estado civil, nacionalidade, naturalidade, raça, cor dos olhos, cor do cabelo, escolaridade, etc.

Geralmente quando ouvimos a pergunta “Quem é você?” respondemos usando nosso cadastro: meu nome é tal, sou homem/mulher, tenho tantos anos, sou formado em tal curso, sou casado/solteiro, torço pelo time tal e assim vai.

A pergunta “quem sou eu?” continua sem resposta, mas nosso cadastro serve como uma resposta fácil e imediata e nos acostumamos a identificar a nós mesmos por ele e nos acomodamos com esta resposta. Ao tentarmos nos definir sem usá-lo ficamos mudos. Tente pra ver. “Quem é você? Responda sem usar o cadastro – “Eu sou...” Vou dar uns minutinhos para você se autodefinir... e aí, como foi? Quer tentar mais um pouquinho? Não é fácil não é?

A personalidade tenta responder esta pergunta dia após dia da sua vida. E vai agregando conceitos externos um após o outro, e assim que consegue uma nova identificação, comemora até perceber que esta nova identificação com um conceito ou valor externo não satisfaz à pergunta, e insatisfeita, a personalidade parte em busca de outra identificação. Nem é preciso dizer que ela está constantemente insatisfeita. Percebemos isto observando nossos desejos.

Desejamos ser ricos, desejamos ter um carrão, desejamos status, desejamos poder, desejamos um cônjuge, desejamos filhos, desejamos uma profissão, desejamos aumentar nosso cadastro, na ilusão de responder à pergunta “quem sou eu?” através dele. Mas o nosso cadastro não somos nós. O cadastro pode responder ao verbo estar, mas não ao verbo ser. Estou casado, estou estudando, estou morando... , mas o verbo “estar” não é permanente. O verbo “estar” é um viajante de passagem. Buscamos por algo permanente, algo que não acabe, algo infinito, algo que é.

O nosso corpo é, sem dúvida passageiro e apesar disto é uma das identificações mais fortes que temos. Quando nascemos recebemos um corpo de presente, é o nosso passaporte pra este mundo. É o nosso “AVATAR”. Eu comparo o corpo a um carro. Este corpo, recebemos de presente, todos nós. Cada um recebe um. Novinho em folha. 0 Km. Vem com as características da montadora, com cor, modelo e tamanho já pré-definidos no DNA. Alguns vem com itens de serie a mais, outros a menos. O tipo de veiculo vai influenciar o piloto. Tem carros de corrida, tem caminhões, tem carros para transporte, tem carros de luxo, utilitários, todo tipo de carro pra todo tipo de piloto e missão. E como não podia deixar de ser, nós, os motorista/almas recebemos este carro/corpo e logo em seguida agregamos ao que pensamos ser nós mesmos e pensamos: “Meu corpo sou eu”.

A personalidade é apegada a toda a sua imensa coleção. Olha para o cadastro e para todas as idéias e emoções que colecionou e diz a si mesma: “isto sou eu”. Qualquer coisa que a personalidade entender como perda na sua coleção vai soar como uma amputação, como risco de morte.

Mas a vida é feita de muitas “perdas”. Perdas de coisas que tomamos como nossas e como nós mesmos. “Perdemos” um emprego, “perdemos” um endereço, “perdemos” dinheiro, “perdemos” status, perdemos “um cargo”, “perdemos” saúde, juventude e sofremos como se parte de nós mesmos tivesse sido arrancada.

Por ignorar quem realmente somos nos apegamos a um monte de coisas externas que absolutamente não somos nós e acreditamos ser estas coisas. Esta é uma das grandes ilusões dessa vida. Na verdade ninguém é quem ou o que pensa que é.

A essência humana não é uma coleção de identificações com coisas inanimadas provenientes do mundo fora de nós, não é sequer o nosso corpo, que recebemos ao nascer aqui. A essência humana, a verdadeira resposta para a pergunta “quem sou eu?” não pode ser respondida por identificação ou por agregação de idéias vindas do meio exterior.

A resposta a esta pergunta está no mundo interior e não no mundo exterior. A resposta é pessoal e intransferível porque somos únicos e não é o mundo lá fora quem vai nos dizer quem somos. Paremos de procurar a resposta onde ela não está e a insatisfação, a frustração vão sumir. Comecemos a usar os verbos corretamente: “Eu estou médico”, “eu estou policial”, “eu estou doente”, “eu estou bandido”, “eu estou casado”, “eu estou ignorante”, etc.

Numa vida que é passageira, nada é para sempre, nada é absoluto. As pessoas lutam arduamente para transformar em eterno o que é transitório, numa luta sem chance de vitória. Há pessoas que fazem plásticas atrás de plásticas em busca de uma juventude eterna, de uma beleza eterna, de uma magreza eterna. A vida é como água, ela flui, ela passa. Não dá para segurá-la entre os dedos; se a represar ela evapora e se a confinar ela estagna e apodrece.

E nesta vida passageira, todos se perguntam “quem sou eu?” E imagino que Mário Quintana estava entretido, a indagar-se destas questões fundamentais quando disse que “A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.” Seguindo esta linha de raciocínio, quem seria, então, esse “eu” que pergunta “quem sou eu?” e de quantos eus é feito um ser humano? Tantos quantos forem as camadas de consciência, de fora para dentro, até o EU central, seria a resposta. Imagino que se quem perguntasse fosse o eu-personalidade, - o eu externo - o cadastro satisfaria como resposta, mas não satisfaz, logo a pergunta deve estar sendo feita de um outro lugar, de um “eu” mais profundo, eu suponho. Imagino que quem pergunta é um “eu” que não passa e que pergunta incessantemente “quem sou eu?” para lembrar à personalidade que somos mais do que uma colcha de retalhos do mundo.

terça-feira, 23 de março de 2010

INADEQUAÇÃO - MISSIONÁRIO OU EXILADO?

Sentimo-nos deslocado da vida e da sociedade, não encontramos nosso lugar, não nos afinamos com a família, amigos e vem sempre a pergunta: o que viemos fazer? Por que vivemos nesta sociedade tão diferente de nós? Qual nossa tarefa na vida?

Todo ser vivo pensante que pisa no chão deste planeta pertence à mesma nascente universal. Há leis semelhantes em todo universo para todo ser vivo que nele existe e estas leis especificam a qual classe ou nível espiritual pertencemos. Espiritual sim, porque todos somos almas ora transitando no plano físico ou no astral. (espiritual).

Quando possuímos o sentimento de inadequação em relação à sociedade que vivemos não é porque não fazemos parte dela, mas sim, que ultrapassamos o estágio que os demais se encontram. Como numa escola comum, os de ensino médio passaram pelas classes primárias, mas ainda continuam sendo alunos da mesma escola. O mesmo acontece com aqueles que se sentem inadequados ao ambiente que vivem, embora mais adiantados, são ainda alunos.

O destruidor de antanho é atualmente o construtor daquilo que lesou. O aborígene, o selvagem primitivo tem o mesmo destino do europeu culto, do americano rico ou o indiano espiritual, são todos da mesma origem e seguem pelo mesmo caminho para um destino em comum: evolução.

É de praxe que o maior ampare o menor. O professor não entra numa sala de aula para se sentir superior aos seus alunos; veio para ensinar aquilo que aprendeu. O médico não recebe doentes no consultório para mostrar que tem mais saúde que o paciente, e sim, devolver o equilíbrio físico a aqueles que não têm. Os que se sentem superiores, espiritualmente falando, têm a missão de elevar os que estão abaixo de si.

A crítica nunca deixou obras de valor.Só os atos de compreensão e de auxílio deixam rastros positivos.

A sociedade que criticamos é aquela que nós mesmos criamos em existências anteriores e que hoje viemos para corrigir e melhorar.

Uns se encontram no início, outros já percorreram metade do caminho e poucos estão chegando ao termo, mas todos são viajantes da mesma estação de partida indo para o mesmo destino.

Ninguém é melhor só porque está chegando, mas sim, porque adia a chegada para ajudar os que estão vindo.

Você que se sente exilado sentindo que a Terra não é sua patria...
Você que não se adapta ao sistema de vida da sociedade atual...
Você que sente saudades não sabe de quê e nem de quem, com vontade imensa de voltar para seu lugar de origem...
Lembre-se que:
Somos todos voluntários de uma missão imprescindível à evolução do planeta, dos homens e de nós mesmos. Procurando ter paciência com aqueles que percebemos ser espiritualmente menores do que nós. Lembrando da extrema tolerância que os seres superiores tiveram com a nossa própria inferioridade.
Se nos sentirmos um pouco acima da maioria das pessoas, ontem, fomos iguais a eles. Por isto, sejamos compreensivos mostrando que a evolução está justamente nesta compreensão.
O catedrático não diminui os companheiros que estão no jardim da infância ou pré. Ampara e ama.
Ao sentir uma certa incompatibilidade em relação aos familiares como se a família não é aquela que achamos que seja a verdadeira; lembremos que todo ser vivo do universo pertence ao mesmo tronco de origem.
Ninguém é especial, ninguém é superior, embora em níveis diferentes, somos todos iguais e com o mesmo valor.
A humanidade é nossa família e o cosmo o nosso lar. E pode, no lar onde nascemos, estar a maior razão de estarmos aqui.
Estando numa viagem de tarefas, a proposta é auxiliar os homens nesta época difícil, sem criticá-los e nem formar uma sociedade com apenas criaturas iguais a nós. Se todos os mestres constituissem salas só de mestres não haveria aprendizado em lugar algum. E não existe mestre completo, todos ainda têm algo a absorver. Os realmente grande já não precisam mais voltar à terra.

É compreensível que haja saudades por estarmos apartados de nosso ambiente espiritual e dos mais queridos afetos. Lembremos sempre, que estamos aqui por nossa própria escolha, como um guerreiro que vai à luta deixando sua pátria e família, buscando a vitória em sua empreitada.

Cumpramos nossa tarefa com bom ânimo e fé.

Todos os sacrifícios que beneficiarem a humanidade se reverterão em bônus espirituais para nossa própria evolução. Somos trabalhadores voluntários e não exilados de uma esfera superior.

A ordem é avançar! Não recuar ou desistir, pois muito tempo e suor foi empregado na preparação daqueles que vieram fazer deste mundo um lugar melhor para viver.

Somos obreiros do Senhor da Luz. Façamos, então, luz em nós para alumiar os que ainda estão em trevas.

Mitera - Miryã Kali
15/03/2010

A TERRA E A PASSAGEM DO ASTRO INTRUSO OU HIGIENIZADOR

Eu vos saúdo em nome da Luz!
Irmãos, a anarquia planetária está instalada!
Governos poderosos enraizados no materialismo e com bases religiosas
superficiais e ilusórias, sentem o choque dos primeiros movimentos de
sua derrocada.

A atitude anti-cristã das nações poderosas para com outras nações
menos favorecidas, e a atitude com seu próprio povo, em exacerbar-lhe
o desejo consumista, faz ruir suas sólidas estruturas materiais.

O desequilíbrio planetário afeta todos os habitantes do globo, mas a
maioria permanece em suas rotinas inalteráveis: dormir, acordar,
comer, beber, trabalhar e lazer, sem prestarem muita atenção aos
acontecimentos de impacto que ocorrem ao seu redor.

Nos planos invisíveis os desequilíbrios são mais intensos. Os seres
perversos buscam ativamente dominar e vampirizar seus desafetos ou
alguma alma desprevenida. Espíritos perdidos, vagando entre os
encarnados, como se ainda estivessem no mundo físico. Aconchegam-se
mais à matéria, temerosos de enfrentarem a nova realidade.

Hordas de "seres feras", libertos de regiões abissais profundas,
comandados por outras mentes de alta inteligência e corações
desprovidos de amor, enredam mil armadilhas para controlar a mente
humana. Fazem experiências desumanas com seres encarnados e espíritos
desequilibrados, na tentativa vã de apoderarem-se do plano físico,
materializando-se, fugindo das rodas encarnatórias.

Intensa pressão negativa do Astro Higienizador, que provoca no plano
invisível desconforto e loucura, desatinos e maior insensatez nas
ações das mentes pervertidas.

No plano físico, a ação do Astro Higienizador provoca na criatura
encarnada a pressão intrínseca nos sentimentos inferiores, ativando o
lado sombrio das pessoas.

Todas as criaturas desprovidas da fé e confiança no Criador sofrem sua
ação incontinente. Como há nos seres mais sombras que luz, esses
ficam na dependência de si mesmos, mas se desenvolveram dentro de si
a força da fé e a vontade firme de servir ao Cristo, conseguem manter-
se acima das vibrações inferiores do Astro Higienizador, sem sofrer
diretamente sua ação; porém, sua pressão ficará mais intensa a cada
dia que passa.

Por todo o planeta há instabilidade ambiental, violência desmedida
entre os habitantes e inversão total dos valores morais. Sintomas
típicos de decadência moral de "final de tempos".

As criaturas que vivem para o mal e sobrevivem das energias
decadentes dos seres, multiplicam-se em todas as latitudes
geográficas. Fortalecidas em poder, pela fartura do alimento
inferior, julgam apoderar-se do planeta em breve tempo.

Mas, há uma Força Superior que vos guia e controla todas as ações, da
Luz e das Trevas. Sois pequeninas almas a caminho do progresso e
vosso planeta um grão de areia, no Universo Infinito do Pai.

Todas as criaturas, senhores e escravos, Trevas ou Luz, estão sob severo
controle das Forças do Bem, que dirige os destinos do Planeta.

Avidamente os seres buscam "ter" bens materiais, esquecidos dos
nobres valores do "ser", que poderão transportá-los para a vida
eterna.

Valores morais distorcidos, vibração comprometida com a ação inferior
do Astro Higienizador.

Valores morais enobrecidos, firmeza de propósitos no Bem, vibração
superior a ação do Astro Intruso.

"As trevas" atacam por toda parte. Não desejam perder nenhuma alma
incauta que fortaleça seu império.

A Luz Maior derrama-se sobre o planeta e aquele que se esforçar
poderá alcançá-la. As oportunidades são iguais para todos, cada
criatura deve fazer o esforço de vencer a barreira inferior e lançar-
se à Luz renovadora.

Jesus, o Divino Governador, conduz a todos.

Eliadne
(Ser amigo de Vênus)

P – O Astro Intruso está mais próximo da Terra?

R – Sua ação está mais intensa, pois dia após dia encontra-se mais
próximo da Terra, até que suas auras se choquem e seja detonado o
Resgate Planetário.

O apelo das Trevas é mais forte para as criaturas, pois está
fortalecido também, pela ação negativa do Astro Higienizador.

Portanto, os seres humanos têm que fazer esforço maior para alcançar
a Luz e manterem-se em uma faixa vibratória acima da faixa negativa
do Astro Intruso.

P – O Astro Intruso provoca desequilíbrios em a Natureza ou aumenta
esses desequilíbrios?

R – Sim. A presença mais forte do magnetismo primitivo do Astro
interfere no equilíbrio das Forças da Natureza que já se encontram
desequilibradas pela ação destrutiva dos seres humanos.

P – A presença mais próxima do Astro Higienizador acelera a
verticalização do eixo imaginário da Terra?

R – Sim. Lentamente o eixo encaminha-se para verticalização, mas, a
mudança brusca da verticalização somente ocorrerá quando as auras dos
planetas se chocarem.

As criaturas mais sensíveis já percebem uma certa eletricidade na
atmosfera, que provoca irritabilidade e inquietude íntima. É a
presença mais intensa da ação do Astro.

Também, essa ação magnética primitiva tem proporcionado a abertura de
Portais para o Abismo, por onde tem debandado seres bestiais para a
superfície, mas, é por onde os Trabalhadores da Luz, Guerreiros do
Cristo como vós, tem penetrado no mais profundo Abismo, em direção
ao "centro intelectual do mal", o caminho para a Fera (A Besta do Apocalipse).
Este Astro também possui o nome de Higienizador, pois proporciona a
limpeza de regiões profundas e inacessíveis do Abismo, atraindo com
seu forte magnetismo primitivo as negatividades ali existentes.
Eu vos saúdo em nome do Cristo Planetário.


Eliadne
Ser de Vênus

GESH – 17/08/2007 – Vitória, ES – Brasil

Vai aqui mensagem do site: www.extraseintras.com.br
mensagem de nº 1246
Publicada em 1 de Dezembro de 2008

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

DORMIR ENQUANTO OS VENTOS SOPRAM

Alguns anos atrás, um fazendeiro possuía terras ao longo do litoral do Atlântico. Ele constantemente anunciava estar precisando de empregados. A maioria das pessoas estava pouco disposta a trabalhar em fazendas ao longo do Atlântico. Temia as horrorosas tempestades que varriam aquela região, fazendo estragos nas construções e nas plantações.
Procurando por novos empregados, ele recebeu muitas recusas.
Finalmente, um homem baixo e magro, de meia-idade, se aproximou do fazendeiro
- Você é um bom lavrador? Perguntou o fazendeiro.
- Bem, eu posso dormir enquanto os ventos sopram. Respondeu o pequeno homem.
Embora confuso com a resposta, o fazendeiro, desesperado por ajuda, o empregou.
O pequeno homem trabalhou bem ao redor da fazenda, mantendo-se ocupado do alvorecer até o anoitecer e o fazendeiro estava satisfeito com o trabalho do homem.
Então, uma noite, o vento uivou ruidosamente.
O fazendeiro pulou da cama, agarrou um lampião e correu até o alojamento dos empregados. Sacudiu o pequeno homem e gritou:
- Levanta! Uma tempestade está chegando! Amarre as coisas antes que sejam arrastadas!
O pequeno homem virou-se na cama e disse firmemente:
- Não senhor. Eu lhe falei, eu posso dormir enquanto os ventos sopram.
Enfurecido pela resposta, o fazendeiro estava tentado a despedi-lo imediatamente. Em vez disso, ele se apressou a sair e preparar o terreno para a tempestade. Do empregado, trataria depois. Mas, para seu assombro, ele descobriu que todos os montes de feno tinham sido cobertos com lonas firmemente presas ao solo. As vacas estavam bem protegidas no celeiro, os frangos nos viveiros, e todas as portas muito bem travadas. As janelas bem fechadas e seguras. Tudo foi amarrado. Nada poderia ser arrastado.
O fazendeiro então entendeu o que seu empregado quis dizer, então retornou para sua cama para também dormir enquanto o vento soprava.
O que eu quero dizer com esta estória, é que quando se está preparado – espiritualmente, mentalmente e fisicamente – você não tem nada a temer.
Eu lhe pergunto: você pode dormir enquanto os ventos sopram em sua vida?
Autor desconhecido

domingo, 24 de janeiro de 2010

AS DEFESAS DO HOMEM de Lisélia de Abreu Marques


O homem está numa fase de desenvolvimento intermediário. Ele não é como uma criatura das profundezas abissais, nem tão pouco um anjo de luz. Está no meio do caminho da evolução.

O homem da Terra ainda é imaturo emocionalmente. Em AVATAR, Neytiri chama Jack Sully de criança, diz que ele é como um bebê, que faz muito barulho, mas não sabe o que faz. Somos todos como o Jack, emocionalmente somos bebês.

Nós, seres humanos, somos extremistas - é tudo ou nada. Dizer que uma coisa é mais ou menos é ofensa. Dizer que algo está “meiaboca” é desprezo puro. Ou o homem é o melhor ou é o pior. Se a conversa se dá num hospital, o homem quer ser melhor até no pior. A doença dele sempre é mais grave do que a do outro, a dor dele é mais aguda, o ferimento é mais feio.

O desejo de ser o melhor vai de encontro com a dualidade VIDA OU MORTE. Se ele não for o melhor, será, então, o pior. E para o melhor tudo – para o pior nada. Como no Coliseu em Roma, nas lutas de gladiadores - para o vencedor a vida, para o perdedor, a morte.
Por trás desta competição de querer ser o melhor vem o medo. O medo da morte, o medo da dor, o medo do sofrimento.

Os seres humanos são frágeis, vulneráveis e temem os outros, quase como em LOST. O outro é o inimigo, mesmo sem saber quem é o outro, ou melhor, exatamente por não saber quem é o outro. A falta de conhecimento, proximidade, intimidade nos isola, cada um numa ilha particular de solidão.  E por sermos frágeis e sozinhos em nossas ilhas tememos os outros, das ilhas vizinhas a nossa. E temendo nos defendemos. Criamos barreiras, fortes armaduras, colocamos fossos com crocodilos e cercas eletrificadas. Tudo para manter o outro longe. E ficamos sós, isolados, sem fazer trocas, sem amor.

Mas o homem é um ser social. Ele precisa de outros homens, então sai armado até os dentes, vestido de camuflado, usando pintura de guerra para fazer amigos. Olha que coisa linda! Imagina se ele consegue fazer algum amigo deste jeito, cheio de defesas e armas? Consegue não e fica mais sozinho, sem ter com quem trocar, sem confiar em ninguém, isolado, infeliz.

Lá fora a natureza é exuberante, o sol está brilhando e a primavera encheu tudo de flores, mas o homem não pode ir nadar no mar, pois a armadura pesa e puxa ele pra baixo e ele pode se afogar. O homem não pode jogar vôlei, pois as armas que carrega nos ombros - e não pode soltar - não deixam mobilidade para saltar e bater na bola. O céu está de um azul perfeito, mas a viseira da armadura faz sombra sobre seus olhos e ele não consegue ver a beleza do céu sobre si. Pobre homem. O peso do seu equipamento de defesa consome toda a sua energia e ele está sempre cansado, exausto. Gasta grande parte do seu dia fazendo manutenção em todo o seu aparato.

Mas do que, afinal, o homem se defende tanto?
Se defende da dor, teme outros homens, teme a negatividade deles, a destrutividade deles, a hostilidade, a mesquinharia, a injustiça. As exigências que os outros fazem ao mundo e, por conseqüência, a ele também. Dói a dor de ser ferido pelos outros e dói o peso de se manter em guardar 24h por dia. Dói viver. Dói morrer. O homem caiu numa armadilha. Acreditando que o mal está lá fora, ele se tranca em si mesmo, e se torna seu próprio prisioneiro.
Mas se esse homem vê o mal lá fora, nos outros, os outros vêm nele este mesmo mal. Afinal de contas, um é o outro do outro. Então o mal está em toda parte, em todos os homens e todos se defendem de todos. E de quem é a culpa?  Meus senhores e senhoras, de quem é a culpa?

Tem uma piada que diz que se o sujeito se meteu na maior encrenca e está sorrindo, é porque ele já sabe em quem vai colocar a culpa. É isso mesmo, a culpa é sempre do outro, é claro! O outro que é mau. O outro que é pior. Eu sou bom. Eu sou melhor que ele. Eu mereço viver, ele merece a pena de morte. Como as coisas ficam claras de entender quando tudo é visto nos extremos! Para nós, humanos é oito ou oitenta. Lembra?

Se eu sou bom eu mereço tudo. Se eu sou mau, eu mereço nada. E quem quer admitir que não é bom? Porque ou você é 100% bom ou 100% mau, não existe meio mau ou meio bom, como não existe meio grávida ou meio buraco. Na nossa percepção extremada é tudo ou nada. Logo, não posso admitir ser meio ruim, porque esse ruim vai comprometer, contaminar, poluir o meu meio bom e tudo estará perdido. Se caiu veneno no leite, não dá pra beber só meia caneca, achando que o veneno foi todo pro fundo. Então achamos que se admitirmos nosso meio mau, estaremos admitindo sermos maus por inteiro, contaminados, perdidos para sempre. E aí, como admitir esta parcela do mal, mesmo que pequena para alguns e um pouco maior para outros, esta parcela do mal que polui, contamina, infecta todo o restante? Não dá para admitir. Não sobra meio bom. O leite todo azeda.

Considerando-se contaminado pelo mal, assim, como o estigma de uma doença que desfigura, o homem esconde suas feridas, esconde as chagas atrás de máscaras construídas com muito cuidado para não deixar os outros saberem que ele é mau. Mas não basta esconder-se dos outros. Pra ficar mais convincente, é melhor esconder-se de todos, inclusive dele próprio. É melhor acreditar que é a própria máscara. Assim é mais fácil viver, ignorando que se é um condenado a morte.
E como num baile de máscaras, os humanos saem por aí, carregando um arsenal de defesa e uma máscara sorridente no rosto.  Todos em busca de amizades e relacionamentos sinceros e saudáveis. Que lindo! Existe ilusão maior?

Aos poucos a mentira vira verdade, a máscara vira a pele, as armas viram os músculos e o homem se transformou tanto, que nem ele se reconhece mais.

Se ele não sabe mais quem realmente é, o falso e o verdadeiro se mesclaram no tempo, se ele se perdeu dele próprio, em quem vai confiar?  Nele? Ele se julga perverso. No outro? Nem pensar! Em Deus? Se ele não estabelece contato consigo mesmo, como vai estabelecer um contato real, autêntico, verdadeiro com Deus?

O que fazer então? Largar tudo no chão de uma só vez e ficar assustadoramente vulnerável? A sua pele já nem sabe mais sentir o toque do sol. Os seus olhos, há tanto tempo vêem o mundo por de trás da máscara que a luz fere. Os seus músculos estão tão tensos por carregar todo aquele armamento pesado que relaxar dói.

O que fazer então?  Continuar a se proteger dos outros como vêm se protegendo? Isto ele já não suporta mais. Ficar sem proteção? Ele não pode. Então, qual proteção seria a ideal? Qual proteção seria adequada a este pobre homem, quase uma sombra de quem um dia foi?

A proteção mais adequada é encontrar a verdade, a verdade abandonada há tempo, escondida embaixo das defesas, embaixo dos armamentos, embaixo das máscaras. Só descobrindo quem realmente é, o homem saberá sua real força.

As falsas verdades que acreditou por toda a vida e o levaram à armadilha que se encontra, já não oferecem mais nada. Apenas engano e dor.

O homem precisa fazer o caminho de volta a si mesmo.
Mas como? Está tão longe dele próprio, sua memória tão adulterada pelo desejo de ser outro que não ele mesmo, alguém que ele imaginava melhor, mais forte, mais bonito, mais poderoso, mais qualquer coisa que ele acreditasse que o manteria a salvo do outro, que ele não lembra mais quem é.

Mas apesar da loucura do homem, da insanidade que tomou conta dele por conta do medo, ele deixou pegadas, deixou pistas, deixou migalhas pelo caminho como João e Maria. Os sinais ainda estão por aí.

Quando o homem está impossibilitado, pelo medo, de olhar para dentro, ele pode se guiar pelo que vê lá fora. Em cada homem a Vida coloca um espelho. E cada vez que vemos o outro, temos uma oportunidade de nos vermos refletidos nele. Este espelho é a nossa bússola. É ele que vai nos ajudar a encontrar o caminho de volta.

Cada pequena coisinha que nos incomoda no outro é um sinal. É uma luzinha vermelha que pisca dizendo que encontramos mais uma pista de quem somos, mais uma pecinha do nosso quebra-cabeça. São essas luzinhas que nos guiarão de volta a nós mesmos.

Foram os nossos defeitos, “o veneno misturado ao leite”, que não queríamos ser e lutamos por esconder, que nos levaram a usar uma máscara, que mais tarde se tornou nossa segunda pele. Foi por não querer ver os nossos defeitos que nos escondemos de nós mesmos. Logo, o caminho de volta consiste em olhar tudo o que rejeitamos ver em nós. Olhar cada pequena mesquinharia, cada hostilidade endereçada a alguém próximo, cada negatividade fedida que nos envergonhava.

Encarar o pior em nós requer coragem, muita coragem e requer também determinação. Muitas vezes vamos querer olhar pro outro lado ou vestir a nossa máscara. É preciso vencer a tentação de fugirmos de nós mesmos para podermos nos encontrar frente a frente. No fundo acreditamos que dentro de nós existe um monstro. Um monstro que pode nos destruir com sua bestialidade, com sua destrutividade irracional e primitiva. Temos medo desta besta fera e fugimos do labirinto do Minotauro porque achamos que o Minotauro somos nós. Na verdade temos medo de nós mesmos, do mal que podemos fazer aos outros, do mal que já nos fizemos, nos desfigurando numa falsa imagem pra desfilar como bonzinhos. Pensar que somos uma fraude dói. Dói muito. Mas nós somos humanos, e com os humanos é tudo ou nada, vamos de 0 a 100 em 1 segundo.

Tem uma piada que diz que três homens estavam conversando e um dizia pros outros dois que o carro dele era fantástico porque fazia de 0 a 100 em 6 segundos, o outro querendo ser melhor, coisa de humano, dizia que o dele era mais rápido, porque fazia de 0 a 100 em 4 segundos, e o ultimo pra não ficar por baixo, disse que a sogra era melhor que os outros dois, pois subindo na balança, fazia de 0 a 100 em 1 segundo. O homem está sempre nos extremos.


Mas não é assim que funciona, o homem não é uma besta fera, nem tão pouco o mascarado que tenta parecer.  O homem tem qualidades e defeitos.  Mas para descobrir que ele não é esta fera, ele vai ter que conhecer a fera.

Há um anjo e um demônio em cada um de nós. Quando nos recusamos a enfrentar nosso demônio, ele nos assombra aparecendo no espelho de cada humano que encontramos pela frente. Nosso demônio não quer ser ignorado. Quer ser visto. E quanto mais fizermos para não vê-lo, mais força ele fará pra se mostrar para nós. Quanto mais fugirmos dele, mais ele aparecerá em todas as esquinas refletido nos demônios dos outros. Não há como fugir dele. Então, melhor é sentar e conversar. Descobrir quem ele é. E isto pode ser feito olhando pra ele refletido nos espelhos dos outros.

Os outros serão nossos guias. Quando o meu defeito for igual ao defeito de outra pessoa isto irá me provocar uma irritação. Quando não conseguir ver meus defeitos por conta das defesas e da máscara, vou precisar contar com os defeitos dos outros para conhecer a minha fera.

Tem uma canção chamada “Same Mistake”(James Blunt) que diz: “... And so I sent some men to fight, and one came back at dead of night. Said he'd seen my enemy. Said he looked just like me” que significa “... então, eu mandei alguns homens para lutar, e um voltou de madrugada, ele disse que tinha visto meu inimigo, disse que ele se parecia exatamente como eu...”. Meu inimigo se parece comigo e me prestará um enorme auxílio. Meu inimigo será meu grande aliado, mesmo sem querer, pois através dele verei  parte de mim mesmo. Mas apenas se eu quiser ver a verdade que quis esconder.
Descobrindo a verdade sobre quem é, o homem não precisará mais ter medo de si mesmo. Não achará que é um monstro sem salvação, será mais verdadeiro consigo próprio e encontrará menos o seu demônio espelhado nos outros. E tendo menos medo de si mesmo, terá menos medo dos outros, e então, poderá começar a se desfazer das suas defesas, das suas armaduras, do seu arsenal de ataque, e com menos peso, será mais flexível,  não precisará jogar a culpa nos outros por tudo, nem reagirá automaticamente às provocações,  podendo assumir a sua responsabilidade, a sua parte na confusão. Poderá sentir melhor a natureza e desfrutar dela e, poderá abraçar mais de perto aqueles que vierem ao seu encontro. E, quem sabe um dia, a sua pele tocará a pele de outro, os seus olhos verão sem viseiras e lentes, o ar entrará puro sem passar pela máscara e o homem, finalmente, entrará em comunhão com a natureza, comunhão consigo mesmo, com o outro e com Deus.