Bom
dia. Um novo dia começa e pra fazê-lo realmente novo precisamos deixar pra trás
a bagagem ruim. Trazer para hoje apenas o que vale a pena carregar, coisas tais
como o aprendizado que tivemos, as descobertas que fizemos e as nossas
ferramentas de evolução.
Pro
passado ficar no passado precisamos perdoar. Perdão é admitir que o inaceitável
aconteceu. Aceitar a realidade sem lutar contra ela, sem revolta, sem ódio, sem
vingança, sem julgamento. Não aprovar ou
desaprovar, simplesmente admitir que o fato ocorreu e, então perdoar o
imperdoável, abrir mão do castigo, deixar ir sem punição.
Parte
de nós não admite isto. Acredita que não perdoar mantém a dívida para posterior
reparação ou castigo e que isto é fundamental para que a Justiça seja feita. Perdoar
seria o mesmo que deixar ir sem compensação, sem reparo, sem castigo. Não
perdoar soa como justiça, como manter o equilíbrio da vida.
Todos
ouvimos falar que perdão é uma qualidade divina e que somente pessoas especiais
são capazes de perdoar, de coração, o que para a maioria de nós, seria imperdoável.
Admiramos estas pessoas, ao mesmo tempo em que, em algum cantinho de nossas
almas, as consideramos tolas. Como
cobradores das dívidas alheias nos sentimos poderosos e cheios de razão. Barganhamos,
castigamos, maltratamos e damos vazão ao nosso lado carrasco sem culpa; Nos
arvoramos “justiceiros” e justificamos o
mal em nós.
Você
já perdoou Hitler e o nazismo? Você já
perdoou a bomba atômica jogada sobre o Japão?
Você já perdoou a Santa Inquisição com suas torturas e fogueiras de
pessoas? Você já perdoou a traição de Judas?
Quando
não perdoamos nos tornamos cobradores. Batemos à porta dos nossos devedores,
muitas vezes com raiva e rancor. Nos sentimos cheios de razão e poderosos. Há
um prazer nisto. O prazer negativo de “estar certo” e o prazer negativo de
cobrar. Nos sentimos no lado “seguro” da dualidade bem X mal, nos esquecendo
que na dualidade não há lado seguro, pois a dualidade não é real, é apenas uma
ilusão da mente.
Na
cobrança há, também, a adrenalina do enfrentamento, supostamente em vantagem,
sobre o devedor. Perdoar é sentido como abrir mão deste prazer negativo, desta
vantagem, é como se entregássemos de bandeja a “vitória” ao outro, como se
fossemos tolos.
Quando
ouvimos falar em “dar a outra face”, sentimos como se fossemos nos expor ao
perigo uma segunda vez, como se isto fosse uma tolice. Mas dar a outra face é
perdoar e seguir em
frente. Quebrar o ciclo vicioso de pagar o mal com o mal.
Perdoar
é uma libertação, é se desvincular da ofensa, é deixar a bagagem ruim para trás.
É começar o novo, sem a carga negativa e pesada do passado. É se libertar ao
libertar o outro, como é dito na oração
do Pai Nosso ( Perdoai-nos as nossas
ofensas assim como nós perdoamos a
quem nos tenha ofendido).
“O
amor cobre a multidão de pecados” e só ele é capaz de nos fortalecer para o
perdão. Só investidos do amor somos capazes de perdoar e o perdão mais difícil é
aquele que devemos dar a nós mesmos. Conceder perdão a outrem, por mais que
nosso senso imperfeito de justiça clame por vingança é mais fácil do que
perdoar a nós mesmos. O autoperdão requer que abramos mão do medo de sermos
castigados pela vida. Preferimos escolher nossas penas e gerenciá-las a deixar
que a vida o faça, então começamos por retirar a felicidade. Como nos permitir
ser felizes com tamanha dívida? Seria injusto e a dívida aumentaria. Então
suprimir a nossa felicidade é o primeiro sinal de que precisamos do nosso próprio
perdão, mesmo que não saibamos ou lembramos do que, exatamente, estamos nos
culpando.
Pra
começar um bom dia, um bom ano, uma boa vida devemos começar perdoando. Esta
deve ser a primeira ação prática do dia, acordar, agradecer e perdoar e só então
levantar e sair para a vida.