domingo, 4 de dezembro de 2011

VENHA NU AO NOSSO ENCONTRO de Lisélia de Abreu Marques

Quando você vier ao meu encontro, lembre-se de vir nu pra me impressionar. Venha vestindo apenas a sua alma alva, lavada e transparente para que eu possa ver seu coração batendo no peito.

Quando vier me encontrar, deixe o escudo e a espada lá fora, junto com sua carteira e todos aqueles papéis que você atua. O encontro não precisa deles e a paz também não. Venha nu pra eu ver sua cor, seu som, seu gosto. Deixe lá fora, também, os pensamentos de outras pessoas que você incorporou ao longo da vida e, às vezes, chega a acreditar que são seus. Venha com a mente vazia pra criar coisa nova, de preferência junto.

Não se esqueça, também, de despir-se das suas muitas máscaras, usadas de forma social e estratégica para cada ocasião; traga apenas o seu melhor sorriso, aquele que nasce sem ser chamado - moleque, espontâneo, alegre.

Tire os sapatos, os seus e os dos outros, que, muitas vezes, você veste contrariado e toque a terra com todos os seus sentidos virgens e inocentes.

Tire os óculos multicoloridos, aqueles com lentes que vão do escuro sombrio ao rosa alienado. Mostre seus olhos e deixe-me ver através deles, porque quero ir ao encontro de e não de encontro a, quero me unir, não me chocar, quero fundir e misturar nossas essências como tintas, criando uma paisagem nova, fresca, linda. Pois o amor requer fusão e para amar é preciso conhecer e para conhecer é preciso encontrar. E, as vezes, até mesmo um encontrão desajeitado faz abrir uma fenda por onde vaza nossa alma perdida e solta a procura de Amor. As almas estão sempre a procura do Amor, pois o Amor alimenta mais do que comida, o Amor acalenta mais do que colinho, o Amor cura mais do que remédio, porque o Amor cola nossos pedacinhos quebrados, arranhados, machucados e separados e nos faz inteiros outra vez. O Amor cura a nossa memória e nos faz lembrar quem somos, quem éramos e quem poderemos vir a ser, pois o Amor não se limita ao tempo ou ao espaço. Ele se espalha e contagia e cola tudo e todos, curando este mundo dentro e fora da gente. Portanto venha nu para se encontrar comigo, já que a gente nunca sabe quando o outro vai abrir uma porta de acesso para matarmos a saudade de nós mesmos.

2 comentários:

  1. A distância entre o que pensamos, divagamos ou escrevemos do que vivenciamos é abissal. Quando nos deparamos com a nudez (da alma) de alguém nos assustamos. Medos, receios, pré conceitos, insegurança, são ingredientes limitadores para se despir. Ah! Dialética entre o consciente e o inconsciente...

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