segunda-feira, 5 de abril de 2010

A FÉ DAS ARANHAS de Lisélia de Abreu Marques

Passeando no jardim da minha casa, parei para observar as aranhas. Uma delas, como uma artesã, fiava sua teia durante algum tempo. Fiava, fiava, cuidadosamente a sua renda. Observei outra e percebi, que depois de feito o seu delicado trabalho, elas costumam ir para o centro da teia e lá, aguardam, quietinhas e confiantes, no sol, na chuva ou no vento, para que o Universo faça a parte dele trazendo a refeição.

E me dei conta que na Criação é assim. O fruto do trabalho é gerado no ventre do repouso, embalado pela confiança. Observei, também, que a árvore faz a semente e a deixa repousar na terra, confiante no milagre que irá despertar a semente para a germinação. E que o padeiro sova a massa e deixa que, no repouso, a massa cresça para que depois, no forno, se transforme em pão.

Atividade e passividade. Ação e repouso. Fé. Eis os elementos da criação.
É preciso fé, para fazermos a nossa parte acreditando que o Universo fará a dele.
E, é preciso que façamos a nossa parte para que o Universo possa fazer a parte dele.
É, esta relação, esta parceria entre a criatura e o universo, que faz surgir o novo. E neste processo de criação, a ansiedade e a descrença atrapalham. Plantar a semente e ficar remexendo a terra para saber se a semente já está germinando ou toda hora abrir o forno para ver se o bolo está crescendo, impedem que o Universo faça a parte dele. É preciso um voto de confiança, é preciso acreditar, é preciso esperar na fé.

Trabalho e fé são as ferramentas da natureza. As aranhas sabem e tecem cuidadosamente a sua melhor seda e oferecendo o seu trabalho ao Universo, se recolhem ao centro, aguardando em silêncio, deixando a teia em repouso. Findo algum tempo este repouso se quebra, a teia se agita e elas sabem que foram recompensadas. A refeição está servida.

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